Amor cego
Há muito já se colocou que o amor é cego.
Mas, dentro da visão sistêmica, qual o significado e a profundidade desta expressão?
O amor é ligação primeira entre vidas humanas, de
conexão, causador de forte energia e sinergia. Mas até o amor tem suas
nuances. Aqui vamos discorrer sobre os tipos de amor que causam dor e emaranhados.
Nosso primeiro amor é o amor infantil, dependente,
carente, exigente, apegado, que necessita ser visto, que necessita do
reconhecimento,... O problema se dá quando se fica preso neste modelo ao se
passar a ser adulto. O amor infantilizado causa transtornos nas relações adultas
de qualquer ordem, uma vez que apresenta atitudes explosivas, de insegurança, egocêntricas,
impulsivas, de necessidades de elogio e atenção. A primeira grande aprendizagem
da criança é reconhecer-se como ser separado da mãe, do seu corpo. A medida que
a pessoa cresce e amadurece seus sentidos vai se percebendo como ser único, como
indivíduo, com sentimentos e sensações próprias. Somos seres separados, com vidas
singulares, carregando percepções que diferem sobre a realidade. Enquanto
adultos devemos estar prontos para sustentar, de todas a formas, o próprio
destino e de compartilhar esta experiência com amor na vida plural. Convivência
gera mais conexões e aprendizados.
O amor cego se apresenta quando há, por um lado, idealização e, de outro, negação no cenário da vida. Nada é perfeito sempre, mas quando não
se vê o outro com suas dificuldades e possibilidades, e há uma lealdade
inconsciente, isso faz com que a pessoa se coloque a serviço da salvação de alguém,
ou na solução de algo, podendo ser invasiva em situações. Por amor nos
colocamos a serviço com sacrifícios e dores. Este amor cego faz com que dores de
ancestrais sejam ‘adotadas’, inconscientemente produzindo perpetuadores de
histórias familiares. Uma ânsia nos faz honrar algo nos mantendo nas dores
das nossas crianças internas. Por amor é difícil de suportar perdas, de
encarar as dores do outro, as escolhas e destinos difíceis dos entes queridos,
por amor há identificação com sentimentos e, seguidamente por pena, a pessoa sai
do seu lugar para viver a vida do outro, para poupá-lo da sua condição. A tendência de
sentir pena e de querer fazer pelo outro é um alerta, primeiramente, de fraqueza
própria, de não conseguir aguentar ao que se refere a dor e tristezas, e,
também, de negação do potencial do outro, da sua possibilidade de enfrentar seus próprios obstáculos
e destino.
Isto causa desordem,
desequilíbrios, emaranhados, repetições no sistema..., violências,
dependências, vícios, doenças, atitudes confusas, falências,...
Bert Hellinger diz: Quando em uma família surge um buscador, é porque este encarna o desejo de todo o clã de sair das repetições e do conhecido e ir adiante.
A constelação familiar é um olhar sistêmico sobre nosso
momento, nossa história e ao que estamos interconectados. Além do DNA há uma
cultura que herdamos, há conexão
ancestral, que estudos recentes chamam de campo morfogenético, campos mórficos,
uma força invisível. Uma ordem e uma estrutura que carregam informações, dão
forma para atitudes e hábitos individuais, que se tornam coletivos, comuns, e
se consolidam na família, na escola, no trabalho, na comunidade...
Tais estudos ajudam a compreender como são adotadas as formas e
comportamentos característicos, e o legado familiar ao qual estamos ligados, no qual
muitas vezes ficamos enredados e nos enredando sem conhecimento e entendimento.
A constelação sistêmica nos convida a olhar para isso sem medos, sem
julgamentos. A força que recebemos tem em si o sofrimento e a capacidade de superá-lo
para seguir em frente.
Enfrente!
Sejamos um
buscador.
“... o
amor cego precisa abrir os olhos, encarando…” Bert Hellinger
Então, em frente!

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