Automutilação - como a Constelação pode auxiliar?

 

Como Pedagoga e trabalho com diversas escolas das redes públicas e particulares em minha cidade. Nesta trajetória como educadora socioambiental tenho me deparado com uma problemática cada vez mais preocupante: a automutilação como prática que tem crescido entre adolescentes, meninas na grande maioria. Trata-se de cortes realizados pelo corpo como uma forma de alívio de dores emocionais, segundo depoimentos de psicólogos que vem atendendo os casos. Surgem como sintomas de depressão e outros transtornos que se manifestam a partir das pressões da idade, da necessidade de aceitação, por abusos sofridos, e tantos outros motivos ou problemas que atingem a adolescência. Na atual conjuntura, diante do fenômeno das redes sociais, mais motivos de preocupação aumentam esta lista. Somam-se aí casos de bullying, suicídios e desaparecimentos.


A rede educacional formou grupos de estudos e rodas de conversa buscando mapear e atender casos. Verifica-se que somente falar sobre o acontecido não auxilia. É na escola, entre amigos, que tem aparecido os casos. Muitas vezes a família não se deu conta das ocorrências. Os setores de Orientação Educacional e Psicologia vêm se mobilizando unindo outros setores da Educação e Saúde para atender ao fenômeno.

As mudanças no comportamento devem ser acompanhadas pela família com o apoio da escola, pois se apresentam  desinteresse por atividades que antes gostavam com isolamento, queda do rendimento escolar, o uso de muita roupa ou longas em dias quentes, surgimento de machucados diversos, etc.

Psicoterapia e medicação é a forma direta de tratar os adolescentes com este distúrbio de comportamento que pode ser por baixa auto estima, ansiedade, raiva, tristeza, angústias e/ou frustração. Mesmo com a negação ao diálogo é importante buscar por conversar sobre outras formas de busca de alívio e ajuda. Por isso é importante os grupos entre educadores, familiares e adolescentes.

Neste sentido entra a Constelação Familiar como uma forma de conhecer e compreender o que acontece no campo do adolescente e sua família. Uma forma de auxiliar este a se  reconciliar consigo, desvelando acontecimentos associados aos fatos, tanto atuais como os do passado.

Destaco um caso acompanhado, de uma jovem que apresentou sintomas no final da adolescência,  quando estava para ingressar na universidade. Não conseguiu falar sobre abuso sofrido na infância, mas dizia que algo a perturbava. Havia um não saber lidar entre os familiares com a problemática, uma forma de negação, ou não aceitação que tem sido um empecilho no avanço do tratamento. O pai num estado de fuga e a mãe conseguiu falar que estava assustada quando, além de apresentar os cortes, a filha passou a falar sobre suicídio.

Pesquisando sobre tal transtorno achei interessante a comparação da atitude de se autoprejudicar com o conceito da homeostase como busca de equilibração para que seja possível manter-se em funcionamento. Há aí uma grande capacidade de regeneração se colocando o organismo em equilíbrio. Estando o comportamento abalado é preciso o apoio do ambiente e aí conhecer o campo e seus fatores de influência é muito importante para restabelecer a saúde e o bem-estar. 

Automutilação é um pedido de ajuda e a constelação, um acolhimento muito importante para esta dor.  A complexidade dos sistemas familiares está presente, há um emaranhado em processos e, se respeitando o  tempo necessário a terapia sistêmica está aí para entrar no acompanhamento, contribuindo por demais no tratamento e libertação. 

Bert Hellinger nos ensina através das suas três leis do amor, que quando nos sentimos pertencentes ao grupo familiar, em nosso lugar na família, estando em equilíbrio estas relações, nos tornamos um adulto saudável, com capacidade de lidar com todos os percalços que a vida nos coloca. Os sintomas da automutilação nos mostram que estas leis estão em desequilíbrio nas vidas de nossas adolescentes, e desta forma relativa de busca de sustentação e estabilidade estão a solicitar ajuda.


Comentários

  1. Adorei o texto, este tema é de fato muito importante e precisa ser dialogado e compreendido para que, nós educadores, possamos dar um suporte aos nossos adolescentes.

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  2. Gratidão pela visita e participação! Em Canoas/RS temos um projeto reunindo adolescentes e famílias: Amor a Vida.

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